Thursday, July 26, 2007

As antenas de telemóvel

Aqui está parte de uma notícia publicada no Jornal de Noticias de hoje:
Face a este receio, acrescentou José Moreno, a "Parque Expo remeteu-nos para uma circular da Direcção-Geral de Saúde que afirma que face aos conhecimentos científicos actuais e aos resultados de inúmeros estudos epidemiológicos desenvolvidos até ao momento, não existe perigo para a saúde das populações". Mas, afirma, alarmado, José Moreno "Eles não garantem a inexistência de perigo".
Como se vê é de um rigor espectacular, o assunto referido é a instalação de umas antenas de telemóvel, mas se fossem sinais de trânsito os dois textos entre aspas podiam ser iguais.

Apitos dourados e ciclismo

Qual será a ligação entre o futebol, o ciclismo e a corrupção?
É obviamente o dinheiro. Aquelas actividades impropriamente chamadas desporto geram receitas fabulosas, e suscitam a cobiça de muita gente.
Quando não há força ou rapidez suficiente para se ganhar e ganhar os prémios toca de tomar todas as drogas possíveis e que sejam indetectáveis, ou de adoptar processos artificiais de melhoria de desempenho, que também sejam difíceis de distinguir.
Todos estes procedimentos resultam de investigação científica clandestina, necessariamente muito cara, e que têm de se manter à frente das possibilidades das autoridades ditas desportivas.
Só as verbas de financiamento vindas de patrocinadores, televisões e espectadores permitem estado de coisas.
Por mim podem drogar-se à vontade, uma vez que não se trata de desporto, mas de espectáculos em que só o desempenho conta.

Thursday, July 19, 2007

Radares, nacional espertisse

Foram instalados em várias artérias de Lisboa radares de medição de velocidade, que, ligados a um sistema central permitem emitir de forma expedita as notas de cobrança das multas por excesso de velocidade. Os sistema dispõem de uma pré-detecção que, em caso de possível infracção, avisa os condutores acendendo um painel que relembra em tamanho garrafal o limite em vigor no local e só 300m depois a velocidade é medida efectivamente. Os sistema esteve em funcionamento experimental durante seis meses, registando cerca de 500 mil contravenções virtuais, isto é, sem punição aplicada.
Quando o sistema entrou em funcionamento efectivo, há dois ou três dias, seria de esperar que não houvesse, ou que houvesse muito poucos prevaricadores, mas só no primeiro dia foram detectados cerca de quatro mil veículos em excesso de velocidade.
Além deste facto espantoso, há que referir a atitude de muitos meios de comunicação, de Professores do IST e do Automóvel Clube de Portugal: os radares estarão mal postos, os limites de velocidade mal definidos (não deveriam ser aqueles), etc..
Para a generalidade destas pessoas a Lei não é para cumprir sempre e em todos os lugares, é para cumprir quando dá jeito e onde nos aprouver, ou seja, se ninguém estiver a ver não há problema, a questão só se põe se a autoridade legítima decide observar o comportamento dos cidadãos e punir os infractores, e quando isso acontece estes armam-se em vítimas e são apoiados por entidades insuspeitas, ou que o deveriam ser.
Está à vista onde este raciocínio, que é de facto geral na nossa sociedade, no pode levar: pode-se praticar qualquer crime, desde que não se seja apanhado. Felizmente que, na maioria dos casos, a regra é aplicada só a pequenos delitos, mas imagine-se o que seria se se generalizasse a todo o tipo de contravenções à Lei.

Monday, July 16, 2007

A objecção de consciência

Decididamente a democracia pode conter em si própria os germes da sua própria destruição ou subversão. Na ânsia de precaver abusos instalam-se dispositivos jurídicos que devem proteger as minorias da "ditadura" da maioria. Mas, por vezes, as minorias usam esses mesmos dispositivos para bloquear decisões tomadas pela maioria de forma legítima, através das Instituições legais do Estado.
É o caso dos "objectores de consciência" em relação à IVG. O legislador previu que os profissionais de saúde que prestam cuidados nos serviços públicos possam objectar a esta prática com fundamento na sua consciência. A IVG, sob certas condições, é legal e foi aprovada, em referendo, na Assembleia da República, pelo Governo e pelo Presidente da República, pelo menos, mas há algumas pessoas que decidem que, embora tenham contrato com os Hospitais, não querem executar esse acto médico. A situação seria estranha, se não acontecesse que existam Instituições onde não é possível realizar IVG por falta de pessoal devidamente qualificado, uma vez que todo o pessoal decidiu objectar. Aqui temos uma situação que não configura protecção de minorias, mas sim boicote organizado às leis da República, que não deve ser tolerado de forma nenhuma.
Imaginemos que os motoristas de táxi decidiam que era contra a sua consciência travar o automóvel, ou que os carteiros se recusavam a transportar envelopes de uma certa cor, ou ainda que os jornalistas se coibiam de noticiar o que se passa dentro da área metropolitana do Porto, ou seja, que os membros de uma profissão se diziam impedidos de realizar parte das tarefas que lhe são cometidas habitualmente. Evidentemente que se apregoaria que se estava a assistir a uma manobra corporativa de subversão da lei.
Neste caso não, e não se tomam medidas, como por exemplo, a redistribuição dos objectores para assegurar que em cada estabelecimento haja um certo número de não objectores.
Se a actividade é legal e aceite, não deveria haver o estatuto de objector de consciência, é a conclusão que se tira.

Wednesday, July 11, 2007

Mircea Pavel, romeno de Timisoara

Mircea Pavel, romeno de Timisoara, resolveu processar deus, representado pela Igreja Ortodoxa. Segundo o referido senhor, que se encontra preso por vários crimes, deus teria feito um contrato com ele no momento do baptismo, em que se comprometia a livrá-lo do mal. Como isso não aconteceu, Mircea resolveu processar deus, na pessoa daqueles que se afirmam seus representantes, por incumprimento contratual.
Infelizmente a Procuradoria de Timisoara não foi da mesma opinião, uma vez que deus não tem morada certa e indeferiu o caso não o levando a julgamento.
Por cá haveria muitos casos semelhantes se a nossa Procuradoria, que não é muito lesta a investigar casos muito terrenos, fosse capaz de descobrir a morada do tal senhor.

Muito cuidado

Sim, muito cuidado. Nos últimos dias passaram-se três acontecimentos, aparentemente desconexos, mas que alertam para o cuidado que se deve ter em relação à ICAR:
I - A ICAR publica um documento em que se afirma como a única Igreja de Cristo, e que todas as outras religiões cristãs nem igrejas são;
II - A ICAR, através da sua Conferência Episcopal faz um ataque cerrado ao Governo Português, em termos completamente inaceitáveis;
III - Os Hospitais das Misericórdias recusam-se a particar IVG segundo a Lei Portuguesa.
O primeiro ponto não me incomodaria nada se não se tratasse de um trampolim para os outros, porque não tenhamos ilusões, nada do que politicamente a ICAR faz é por acaso, é tudo muito bem orquestrado a nível internacional (não sei o que se vai passar noutros países).
O acontecimento que refiro no segundo ponto é gravíssimo, porque se trata de um ataque aos Orgãos de Soberania do Estado Português, que é laico. O que a ICAR refere como ataques a si própria é a falta de vontade do Governo em a subsidiar, em variados aspectos e actividades, com o dinheiro de nós todos. Imagine-se que se vão diminuir os subsídios aos colégios confessionais católicos dizem eles, e muito bem, digo eu. O Estado não deve subsidiar nenhum ensino privado, quem quiser optar por ele deverá pagar do seu próprio bolso, mas o que a ICAR pretende é sobrepôr-se, usando a Concordata, não só ao ensino laico, como ao ensino das outras religiões. No fundo estão a usar o dinheiro do Estado, dos impostos, para propagarem a sua religião, o que não me parece que seja a função desse mesmo Estado.
Quanto ao terceiro ponto, se as Misericórdias fossem uma instituição privada, que não recebesse subsídios enormes do Estado e não gozasse do monpólio dos jogos de apostas e outros, eu poderia estar de acordo, mas nas condições reais em que funcionam, não deveriam poder tomar esta atitude sem que as benesses lhes fossem retiradas.

Monday, July 09, 2007

Tendência para a asneira

Parece que os humanos têm tendência para a asneira. Senão vejamos, no sábado passado, dia 7 de Julho de 2007, deram-se alguns factos que levam a crer neste facto.
I - Festejou-se o dia como se fosse alguma coisa de especial, sem se ter em conta que os números da data dependem de onde se coloca a origem da contagem, ou seja, segundo o calendário indiano ou o israelita não houve nada de especial. No entanto, os comerciantes, sempre de atalaia à espera de saltar sobre os consumidores com um dia disto ou daquilo conseguiram promover o 07/07/07 para casamentos, principalmente. Apesar de se manifestarem contra as superstições, não me consta que tenha havido alguma seita religiosa a recusar actos para esse dia.
II -No mesmo dia foram "eleitas" a novas sete Maravilhas do Mundo, que pretendem substituir as do Mundo Antigo. Pelo resultado verifica-se que se devem ter esquecido que se tratava de votar nas novas sete Maravilhas do Mundo e não nas Maravilhas que resistiram assim assim ao passar do tempo. E lá veio o Coliseu de Roma ( que, segundo uma velha anedota, depois de pronto fica lindo), Machú-Pichú, Petra, a Muralha da China, o sinaleiro do Rio, etc..
As Maravilhas do Mundo antigo eram-no efectivamente, ou seja, estavam em bom estado, desempenhavam as suas funções e, sobretudo eram únicas e produto de um engenho fora do vulgar para a época de que eram contemporâneas.
III - Live earth - foi uma espécie de festival de música, predominatemente anglo-saxónica, que pretendia chamar a atenção para o aquecimento global provocado pelo efeito de estufa devido principalmente ao dióxido de carbono. Alguém questionou quantas toneladas de CO2 foram libertadas directa ou indirectamente devidas a este acontecimento? Quantos viajaram e viajam de avião particular? Quantas toneladas de material foram deslocadas para efectivar os espectáculos?

Todos iguais, mas uns mais que os outros

Segundo a agência I.Media, especialista em assuntos do Vaticano, será publicada amanhã uma nota de reforço do texto "Dominus Iesus" de 2000 em que se afirma que a ICAR é a única igreja cristã verdadeira, sendo todas as outras uns "relativismos eclesiológicos". Como para eles todos a religião cristã é a única verdadeira, o resultado final é evidente.

Wednesday, July 04, 2007

O proselitismo das religiões

Suponhamos, de uma forma muito imaginosa, que o Eng. Belmiro de Azevedo, e uso este nome apenas porque é muito conhecido, vinha dizer que a sua gestão da SONAE era inspirada por um deus qualquer, que teria aparecido na cúpula de um dos seus centros comerciais e lhe tinha comunicado as suas preferências através de um telemóvel Optimus.

Logo seria alvo de dois tipos de epítetos, ou estava louco, ou era um grandessíssimo aldrabão, vigarista e outras coisas parecidas. Em qualquer dos casos o que estaria a fazer era tentar arranjar mais clientes para as suas múltiplas empresas.

Como este empresário, e muitos outros que se assumem por esse mundo fora nessa mesma qualidade e dispensam inspirações divinas para angariarem freguesia, recorrendo antes aos meios normais de publicidade, não há que os censurar: é o seu modo de vida, ofício, emprego, meio de angariar sustento, chame-se-lhe o que se quiser.

Nas religiões organizadas o caso é, aparentemente, diferente, os constituintes das organizações fingem que nada ganham com o que fazem, fingindo que quem ganha são os adeptos. Se olharmos para a maneira de viver dessas pessoas verificamos que a maioria (há excepções) vive no luxo e goza de facilidades completamente interditas ao cidadão comum. Para manter esta situação todas as seitas necessitam de aumentar o número de adeptos para que as contribuições para o funcionamento da seita aumentem, e, portanto há que recorrer à publicidade.

Para manter as aparências as seitas não podem pôr anúncios nos jornais ou na TV, por exemplo, dizendo que a seita X leva o adepto mais depressa para a salvação (o que quer que isso seja) sem estragar o fato. Têm que ser mais subtis, arranjam uns programas pseudo-culturais em que o objectivo é o mesmo, enviam visitantes a casa, ou abordam os incautos na rua. É isto o proselitismo. Acusar uma seita, como a ICAR, de proselitismo é o mesmo que acusar uma vaca de dar leite, ou uma águia de voar: faz parte da sua natureza e sem essa atitude não sobreviveriam.

Que exemplo o do baptismo, em que, na maioria dos casos, um inocente bebé é iniciado na religião. Se não fosse ateu diria que se deus quisesse que tivessemos religião nos faria nascer já baptizados (ou outra coisa, conforme a religião).

Temos é que nos defender e defender os nossos da contaminação por esses aldrabões e evitar que o proselitismo, cada vez mais activo, de todas essas seitas tenha sucesso na sociedade em que vivemos.

Este post foi despoletado por outro, da autoria de Carlos Esperança, "O proselitismo do Opus Dei"

Monday, July 02, 2007

Nascer além fronteiras

Alguns amigos meus estão muito escandalizados com o facto de cidadãos portugueses, neste caso cidadãs, terem de dar à luz os seus filhos em Espanha. Esta opinião releva sobretudo o caso de Elvas e das parturientes que se têm de dirigir a Badajoz. Sempre me manifestei contra esta opinião, porque sempre me foi difícil comprendê-la. Para mim nascer para cá ou para lá de um traço, mais ou menos imaginário, existente numa dada região do globo é absolutamente irrelevante. O que conta é o futuro, a cultura que o cidadão em embrião vai absorver e mais, vai espalhar no ambiente que o rodeia.
Vem este comentário a propósito de uma notícia do Público do dia 1 de Julho em que se refere que no hospital de Badajoz se fazem cursos de português frequentados por algumas centenas de pessoas para darem assistência conveniente às parturientes e familiares, assim como para alargarem os serviços prestados a outras especialidades médicas que a diminuta população de Elvas merece, mas a que não tinha direito.
Regozijo-me com o facto de bebés portugueses estarem a provocar a disseminação da nossa língua, que é sem dúvida o veículo primordial para a nossa cultura, e enquanto houver língua e cultura há Nação.
Na mesma notícia refere-se que durante um ano de vigência deste regime nasceram em Badajoz 260 portugueses entre o total de 3000 crianças cujo nascimento ali teve lugar o que corresponde a 95% dos partos da região o que demonstra que os portugueses são pobres, mas não são parvos, e escolhem o melhor.

"Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."

Bernardo Soares, O livro do Dessassossego